Uma das disputas mais antigas e polêmicas da cidade de São Paulo envolve o terreno ao redor de onde fica o Teatro Oficina, fundado pelo dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso, falecido na manhã de hoje (06/07/2023) após um incêndio no seu apartamento.
A briga já dura 40 anos, e envolve o dramaturgo e o empresário Silvio Santos, dono do Grupo Silvio Santos. O conflito se arrasta há décadas e tem como pano de fundo a preservação do patrimônio cultural – por Zé Celso – e a especulação imobiliária – pelo Grupo Silvio Santos.
O Teatro Oficina
O Teatro Oficina é um dos espaços culturais mais importantes e inovadores do Brasil, reconhecido internacionalmente por sua trajetória de resistência e vanguarda. O prédio, projetado pelo arquiteto Lina Bo Bardi em 1984, foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2010, como patrimônio cultural brasileiro.
O Grupo Silvio Santos é proprietário do terreno ao lado do teatro, onde funcionava o antigo Bixiga Futebol Clube. Desde os anos 1980, o empresário tenta construir um complexo residencial e comercial no local, mas enfrenta a oposição de Zé Celso e de diversos movimentos sociais e culturais, que defendem a criação de um parque público e a preservação da área verde.
A disputa pelo terreno ao redor do teatro
A disputa já passou por diversas instâncias judiciais e administrativas, sem uma solução definitiva. Em 2018, o Iphan autorizou a construção de duas torres no terreno, desde que respeitassem o gabarito de altura do teatro e não afetassem a visibilidade do prédio. Zé Celso recorreu da decisão na Justiça Federal, alegando que as torres iriam prejudicar a iluminação natural e a ventilação do teatro, além de descaracterizar a paisagem urbana.
Em 2019, o Ministério Público Federal (MPF) propôs uma ação civil pública para anular a autorização do Iphan e impedir a construção das torres. O MPF argumentou que o órgão não levou em conta os impactos ambientais e urbanísticos do empreendimento, nem realizou uma consulta pública com a sociedade civil. A ação ainda está em tramitação na Justiça.
Enquanto isso, Zé Celso continuou lutando pela desapropriação do terreno e pela criação do Parque do Bixiga, um projeto que prevê a integração do teatro com a natureza e com a comunidade local. O dramaturgo afirmava que o parque seria uma forma de valorizar a cultura e a memória da região, além de garantir o direito à cidade para todos.
O projeto do Parque do Bixiga
O projeto do parque apoiado por Zé Celso tem o propósito amplo de revitalização urbana. Ele visa transformar uma área degradada no centro de São Paulo em um espaço verde e cultural. O parque deve ser construído sobre o leito do rio Bixiga, que foi canalizado e coberto por avenidas e edifícios no século XX. O objetivo é resgatar a memória e a identidade do bairro, além de promover a qualidade de vida e a convivência dos moradores e visitantes.
O parque do Bixiga deverá ter cerca de 2,7 km de extensão, ligando a praça Roosevelt à praça da Sé. O projeto prevê a criação de áreas de lazer, esporte, arte e educação ambiental, com pistas de caminhada e ciclismo, parquinhos infantis, palcos para apresentações, hortas comunitárias e oficinas de reciclagem. O parque também será um espaço de valorização da cultura e da história do Bixiga, um dos bairros mais tradicionais e diversificados de São Paulo, que abriga comunidades italianas, africanas, japonesas e nordestinas.
Apesar do forte apoio de Zé Celso, a iniciativa para a implantação do parque é da sociedade civil organizada, que conta com muitos outros apoios – de diversas entidades e instituições.